domingo, 27 de setembro de 2009

Nothern Soul



Desde o fim da Segunda Guerra, o mundo não parou de produzir subculturas jovens. Sinal dos tempos, já anunciando os novos rumos da era moderna. Paris, 1946, à margem esquerda do Sena. Poetas, escritores, artistas, niilistas, a juventude sem futuro enfim, reunidas em torno do Existencialismo de Sartre, Beauvoir, Camus. Inglaterra à mesma época tinha os Angry Young Men, um movimento intelectual de esquerda, com peças, filmes e livros tratando da classe trabalhadora. Nos Estados Unidos, a Universidade de Columbia; o Village, em New York e a zona boêmia de São Francisco eram o cenário onde circulavam alucinados os Beatniks, on the road. Caronas, meditação, benzedrina e cool jazz. "Kerouac dizia que, quando Miles Davis soprava seu trumpete era como longas sentenças escritas por Proust" (Bivar). E o Brasil, via Rio de Janeiro, que, sejamos honestos, era na década de 50 "o Brasil", com a Bossa Nova e cantinhos e violões, Nara Leão e todas uma turma bem nascida que girava em torno de Copacabana. Vieram depois o hippies, os freaks, os punks e o resto todos sabemos.

No meio de toda a movimentação dos anos 60, Beatles inclusos, surgiu na Inglaterra uma das mais inusitadas cenas da cultura pop. Falo dos Mods, abreviação de Modernists. Como vocês sabem, os Mods originalmente gostavam mesmo era de música negra norteamericana; modern jazz, rythm'n'blues e soul music. E juntavam todo o seu suado dinheirinho para incrementar suas Lambrettas e Vespas, comprar sapatos italianos e camisas Ben Shermann e sair na noite para dançar em clubes como The Twisted Wheel, The Golden Torch e, talvez o mais famoso deles, The Wigan Casino.

A disputa dos djs por tocar sons desconhecidos levou muitos deles aos Estados Unidos, para fuçar novidades da Soul Music que não chegavam na Ilha de Elizabeth. Deu-se o efeito colateral. No meio dos discos, entre clássicos da Motown, como Temptations, Supremes e Marvin Gaye, muitos singles de selos obscuros, como Shrine, também atravessaram o Atlântico. Pequenos selos desconhecidos inclusive nos EUA. Uma série de cantores, cantoras e grupos vocais com pouca expressividade comercial viraram febre nos clubes de Londres e muitos iam ver determinado dj porque só ele tinha 'aquela' música. Nasce uma cultura underground, com seus ritos e códigos e singles que viraram peças de colecionadores - a maioria daqueles pequenos selos não existem mais - e que construiram a aura e o charme dos Mods. Uma verdadeira irmandade que deu forma a uma cena que vem se espalhando pelo mundo nas últimas três décadas. Primeiro norte da Europa e Itália, depois França e Espanha e, mais recentemente, com o advento da net retorna aos Estados Unidos, via Califórnia, chega a São Paulo, Curitiba e...Salvador. Ãh?! Explico abaixo.

Mas afinal, o que vem a ser Northern Soul? No final da década de 60, o jornalista Dave Godin montou uma loja de discos para vender essa música negra norteamericana, inclusive aqueles discos de selos pouco conhecidos. Entre os frequentadores da loja, Godim percebeu que o pessoal que chegava do norte da Inglaterra, sobretudo jogadores de futebol em passagem por Londres, procurava sempre por grooves mais orientados para a pista (dancefloor), menos redondos e rebuscados que os sons da Motown e com uma certa atitude, que é difícil de explicar. É aquela coisa, tem que ouvir. Assim para facilitar a vida de quem entrava na loja procurando esses sons específicos, Godim separou uma seção e escreveu na plaquinha 'Northern Soul'. Simples asssim.

Mais do que um gênero específico Northern Soul diz respeito a uma cena e certo modo de vida. Música de qualidade, vocais incríveis, músicos sensacionais e um groove que melhora o seu dia. Assim ilustres desconhecidos como Bettye Lavette, Eddie Jefferson, Gloria Jones, Mose Dillard e dezenas de outros viraram pop stars para uma comunidade bem informada e que gira pelo mundo em torno de clubes e djs e cultura pop.


Marcos Rodrigues//

Gerson King Combo lança disco novo



Depois de oito anos sem gravar, Gerson King Combo lança o seu quarto disco "Soul da Paz". No repertório funk e soul e a velha irreverência de sempre.

Pra quem não conhece, Gerson King Combo é daqueles caras que mereciam estar num nível de reconhecimento bem mais alto do que se encontra hoje, um cantor e compositor conhecido como o “James Brown brasileiro”. Não é à toa que o primeiro programa 16 Toneladas trouxe o “seu” Gerson como grande convidado de estréia. Uma figura super tranqüila e que nos recebeu em sua casa, via telefone, como se fôssemos velhos camaradas. Entre muitas histórias que nos contou, inclusive algumas hilárias que foram ao ar, o sentimento era uma mistura de euforia e ao mesmo tempo de tristeza por me tocar que poucas pessoas sabiam realmente quem era o nosso “Funk Brother Soul”.
Nascido no bairro de Madureira, subúrbio carioca, Gerson cantou nas bandas de Wilson Simonal e Erlon Chaves e ainda ajudou a fundar a Banda Black Rio. Mas foi em carreira solo, já com o nome de Gerson King Combo (em homenagem à banda de soul King Curtis Combo), que ele experimentou o auge de sua popularidade, como o Rei dos Bailes Black cariocas. Músicas como “Uma Chance”, “Funk Brother Soul” e “Mandamentos Black”, são fundamentais para compreender toda sua explosão sonora, aliada, nos palcos, com seus trejeitos muito loucos de dançar que chamaram atenção de ninguém menos que James Brown em uma apresentação em algum país que não me recordo agora (Gerson nos contou que estava trabalhando como crooner em um navio quando, numa das paradas em algum porto por aí, soube de um show do seu grande ídolo. Não teve dúvidas, largou a turistada na mão e se mandou. Chegando lá, dançando bem em frente ao palco, o Sr. Brown não acreditou no que viu e o convidou para subir no palco. Resultado: viraram amigos e Gerson acabou ensinando alguns passinhos com balanço bem brasileiro para o mestre).
Depois do auge de sua popularidade, o cantor começou a deixar a música de lado, ao arrumar um emprego na Funlar, projeto de assistência a crianças excepcionais mantido pela Prefeitura do Rio, trabalho ao qual se dedica até hoje. Os anos 80, época na qual a mídia só tinha olhos para o pop rock brazuca, ajudou a aumentar o seu ostracismo, deste que traduziu o suíngue funk-soul do Godfather para um sotaque brasileiro - e junto com Tim Maia, Banda Black Rio, Simonal e uns poucos outros, lançou as bases do som black por aqui.
Em 2001 gravou o disco “Mensageiro da Paz”, 23 anos após lançar o seu último trabalho e graças a uma certa redescoberta de uma galera mais jovem, como Paula Lima, Funk Como Le Gusta, Berimbrown e o Clave de Soul, voltou a aparecer aos poucos em discos, palcos e na mídia, mas nada que traduzisse o tamanho da sua realeza.



DISCOGRAFIA:
- GERSON KING COMBO (1977)
- GERSON KING COMBO II (1978)
- MENSAGEIRO DA PAZ (2001)
- SOUL DA PAZ (2009)

Mário Sartorello

Escute a música Vida de Favela, do disco Soul da Paz.


Get this widget | Track details | eSnips Social DNA

Itamar Assumpção



Uma das figuras mais interessantes surgidas na música brasileira na virada dos anos 70 para os 80, Itamar Assumpção foi um artista que não frequentou as paradas radiofônicas do país, mas que nem por isso se tornou menos importante.
Evitando perseguir o sucesso fácil e com um estilo marcante de fazer música, se tornou conhecido como um compositor de vanguarda e “artista maldito" – rótulo este que sempre recusou.
Ligado em poesia, Jimi Hendrix, Cartola, Miles Davis, Clementina de Jesus e muito experimentalismo, seu primeiro disco independente, “Beleléu, Leléu e Eu – Itamar Assumpção e Banda Isca de Polícia”, lançado em 1980, foi um marco na música brasileira, com músicas que se tornaram conhecidas no cenário alternativo, entre elas “Fico Louco” e a autobiográfica “Nego Dito”.
Ao longo da sua carreira, Itamar Assumpção lançou alguns ótimos discos, quase todos independentes e foi gravado por nomes como Cássia Eller, Ney Matogrosso, Ná Ozzetti, Zélia Duncan e Ceumar, que perceberam a riqueza musical e poética contida em suas canções cheias de um suingue muito peculiar.
Antes de falecer em 13 de junho de 2003, vítima de câncer, Itamar iniciou um trabalho com o percussionista Naná Vasconcelos, resultando na última gravação da sua carreira, lançada postumamente e que ganhou o título de "Naná Vasconcelos e Itamar Assumpção - Isso Vai Dar Repercussão". Vale a pena dar uma escutada!!!

Discografia

- Pretobrás - Por Que Eu Não Pensei Nisso Antes... (1998) • Cd

- Ataulfo Alves Por Itamar Assumpção - Pra Sempre Agora (1996) • Cd

- Bicho De 7 Cabeças Vol. Ii - Itamar Assumpção E As Orquídeas Do Brasil (1994) • Cd

- Bicho De 7 Cabeças - Itamar Assumpção E As Orquídeas Do Brasil (1993) • Cd

- Intercontinental! Quem Diria! Era Só O Que Faltava!!! (1988) • Cd/Vinil

- Sampa Midnight - Isso Não Vai Ficar Assim (1986) • Cd/Vinil

- Às Próprias Custas S.A (1983) • Cd/Vinil

- Beleléu, Leléu, Eu - Itamar Assumpção E Banda Isca De Polícia (1980) • Cd/Vinil

Mário Sartorello//

Wattstax


No dia 20 de agosto de 1972, mais de 100 mil afro-americanos se reuniram no estádio de futebol de Los Angeles, para assistir ao Wattstax, festival que ficou conhecido como o Woodstok da música negra. Foram mais de seis horas de som, com shows de artistas da gravadora Stax, como Isaac Hayes, Bar-kays, Rufus Thomas, Albert King e muitos outros. O reverendo Jesse Jackson era o mestre de cerimônias do festival, e além de apresentar os artistas, comandava a platéia com palavras de ordem como “I am black and I am proud” ( eu sou negro e tenho orgulho de ser negro), no que era respondido por todo o estádio. O festival foi um sucesso e um evento importante na movimentação pelos direitos civis.

Para quem quiser saber mais sobre o evento, é fundamental o documentário Wattstax (disponível em DVD, numa edição comemorativa dos trinta anos do festival), que além dos shows, traz vários depoimentos dos moradores do bairro negro de Watts, subúrbio de Los Angeles, que falam sobre o verão de 65, quando eles colocaram fogo em várias lojas do bairro para protestar contra a segregação racial.

Dirigido por Mel Stuart, o mesmo diretor de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, o documentário é um bom registro do movimento black power, que estava no auge na década de 70. O filme, que tem a participação do ator e comediante Richard Pryor, mostra a importância da música negra na construção do movimento black power. No palco do Coliseum de Los Angeles, muito gospel, blues, funk, soul e R&B, enquanto nas arquibancadas o público, comemorava com muita dança e confraternização.

O gospel não está presente apenas no show, mas também numa das cenas em que o espectador acompanha parte de uma missa dentro de uma igreja, onde o grupo The Emotions canta “Amazing Grace”.

As apresentações dos shows são intercaladas com entrevistas que tratam de assuntos dos mais variados como política, religião, a descoberta de ser negro, o poder da mulher negra, questões comportamentais e etc....

O documentário termina com a apoteótica apresentação de Isaac Hayes, um dos artistas mais importantes da soul music, que chega de carro até a subida do palco, como um rei. Mas, uma das cenas mais impressionantes do filme é, sem dúvida, a apresentação do velho Rufus Thomas, que na hora em que começa a cantar a sua “Funk Chicken”, o público vai a loucura, sai das arquibancadas e invade o campo, para dançar mais perto do palco. O que poderia ter virado uma grande confusão, foi magistralmente conduzido por Rufus, que, no final da música, dizia “Poder para o povo negro” e em seguida pedia “Voltem para a arquibancada”. E sem nenhum tumulto, após dançar o Funk Chicken, aquela multidão voltou alegre aos seus lugares e o show continuou, no espírito de celebração e paz, sem nenhum incidente. Grande Rufus Thomas! Grande Festival Wattstax!

Maira Cristina//

16 Toneladas - Wattstax (veiculado em 19/08/2005)
1ª parte
Get this widget | Track details | eSnips Social DNA

Sixteen Tons - A Música

Get this widget | Track details | eSnips Social DNA

A música Sixteen Tons foi composta por Merle Travis e em 1953 fez sucesso na voz de Tenessee Ernie Ford. A letra fala das péssimas condições de vida nas minas de carvão dos Estados Unidos, da exploração das empresas mineiras, um trabalho praticamente escravo, já que os trabalhadores deixavam todo o salário no armazém da própria mina (I own my soul to the company store).

A canção já recebeu diversas interpretações de gente como Steve Wonder, B.B. King, Tom Jones, Johnny Cash, entre outros. No Brasil o primeiro a gravar uma versão foi Noriel Vilela, em ritmo de sambarock. Mais tarde o Funk como Le Gusta e a banda Eletrosamba regravaram a música.

A inspiração para a criação do programa 16 Toneladas veio dessa canção. Curtam então a interpretação de B.B. King, gravada no álbum Sings Spiruals, na edição de 2006.

Maira Cristina